Copos, chavenas, pratos, cadeiras, mesas, baús, discos, brincos, pulseiras, ferros, molduras, guitarras, selos, moedas, livros .... um mundo de objectos de todas as formas e tamanhos cheios de vida e estórias para contar!
"O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis".Fernando Pessoa (1888-1935) www.casafernandopessoa.com
Acordei a meio da noite com o barulho da chuva a cair lá fora,
não me levantei e rapidamente voltei a adormecer.
De manhã a chuva tinha parado e o sol estava radioso, deu-me vontade
de sair, passear, apanhar ar....e foi isso mesmo que fiz.
Fui à feira de antiguidades na avenida ... ainda lá está o candeeiro que quero comprar, ando a namorá-lo há já algum tempo mas ainda não tive coragem de o comprar.
É um candeeiro de tecto de bola em vidro lilás, apenas necessita de ver substituido o fio de ligação à corrente .....lindo, lindo!
Já falei com a vendedora, já o tive na mão, mas faz-me sempre confusão comprar algo que já teve outro dono...imagino a casa onde esteve, imagino se terá estado num hall ou num quarto...qual terá sido a vida anterior do candeeiro que quero comprar!
Será que os donos anteriores o apreciavam ou será a apenas mais uma peça que lhes iluminava o espaço quando carrregavam no interruptor....

Contigo aprendi que cada momento deve ser aproveitado sem exigir um momento seguinte,que cada abraço teu vale por todos os que não tive anteriormente.Aprendi que o teu sorriso ilumina a minha vida, que cada lágrima tua fala comigo.Aprendi a saltar sem medo de cair,que mais vale arriscar e perder do que parar e sofrer.Contigo aprendi que nenhuma tarde envelhece sem antes ter sido manhã.
A esta hora o sol já se foi, mas fica a memória, a saudade e a presença!
O cheiro a mar, o envolvente da serra, palavras que se trocam, olhares que se encontram...
Metade da gente do mundo ama a outra metade,
metade da gente odeia a outra metade.
Por causa desta e daquela metade terei eu de vaguear
e me transformar incessantemente como chuva no seu ciclo,
terei eu de dormir entre rochas, tornar-me áspero como os
troncos das oliveiras, e ouvir a lua uivar para mim,
e camuflar o meu amor com receios,
e brotar como erva assustada entre os carris do caminho de ferro,
e viver submerso como uma toupeira, e quedar-me com
raízes mas sem ramos, e não sentir a minha face contra a face de anjos,
e amar na primeira caverna, e casar com a minha mulher
sob uma abóbada de vigas que sustentam a Terra,
e expressar a minha morte, sempre até ao último sopro
e às últimas palavras e sem nunca compreender,
e colocar mastros sobre o telhado da minha casa
e um abrigo antiaéreo debaixo dela.
E ir apenas para regressar e passar por todos os lugares
– gato, pau, fogo, talhante, entre o cabrito e o anjo da morte?
Metade da gente ama, metade da gente odeia.
E qual é o meu lugar entre tais iguais metades,
e por que fenda verei eu o bairro de casas brancas dos meus sonhos
e as pegadas nuas na areia ou, pelo menos, o lenço da mulher que acena junto às dunas?
Yehuda Amichai (1924-2000), poeta israelita